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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos

A teologia denomina “parusia” a volta gloriosa do Cristo no final dos tempos. A “parusia” significa a consumação do mundo, o retorno ao Paraíso.
            O momento em que Jesus Glorioso virá pela segunda vez pode se dar a qualquer momento, mas, esse dia é um segredo que nem a Jesus, enquanto homem, foi revelado. Portanto, se nem Jesus revelou, não há ninguém que possa profetizar esse dia com segurança. Qualquer um que esteja dizendo “é chegada a hora” está usurpando de um poder que não possui. Precisamos ficar atentos aos sinais dos tempos, mas, nenhum de nós pode saber o tempo exato de duração que simboliza cada sinal.
No Credo professamos assim: “Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”. Fundamentalmente o Filho vem sempre do Pai, esta é a sua natureza. Ele vem como a Palavra, a Expressão, a onipotência do amor do Pai. Esse “Donde”, não indica um lugar, mas um estado de pleno poder, que não sofre diminuição, da origem do Pai. Isso quer dizer que ele nos conhece profundamente e agirá como aquele que experimentou toda nossa culpabilidade. É participante do poder do Pai, do qual procede.
Por isso ele vem julgar, ou melhor, dividir o sim do não, decidir entre direita e esquerda. Um texto que representa esse julgamento está em Mateus 25. O julgamento serve para abrir caminho para o eterno, para nos colocar diante da Verdade. Todos nós estaremos perante este juízo, exceto a Mãe do Salvador, na qual nada há para ser julgado. Como o Senhor julgará, nenhum de nós pode dizer, pois só uma coisa foi-nos dita: “Eu tinha fome e me destes (ou não me destes) de comer”. Mostramos misericórdia ou só amamos a nós próprios? Onde nos situaremos, à direita ou à esquerda?
O que precisamos crer, portanto, é o que nos diz o Catecismo, quando afirma que Cristo é o Senhor da Vida Eterna e o pleno direito de julgar definitivamente as obras e os corações dos homens pertence a ele enquanto Redentor do mundo. Ele adquire este direito na Cruz. Entretanto, ele veio para salvar e dar a Vida e não julgar e condenar.” É pela recusa da graça nesta vida que cada um já se julga a si mesmo, recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se para a eternidade ao recusar o Espírito de amor.


Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso

O Símbolo nos ensina a crer em quem ressuscitou o terceiro dia, subiu aos céus e está sentado à direita do Pai. A Ascensão é a “volta ao Pai (cf. Jo 13,1; 14,28; 16,28), onde Jesus, “sentado a sua direita”, começa uma existência nova em plenitude de vida e de poder. Cristo, antes de vir ao mundo estava junto a Deus Pai como Filho, Palavra, Sabedoria. Sua exaltação consistiu, pois, no retorno ao mundo celestial, de onde veio, revestindo-se de novo da “glória que possuía desde antes da criação do mundo” (Jo 6, 33-58).
            Paulo resume a fé da Igreja dizendo que “Cristo morreu, mais ainda, ressuscitou e está sentado à direita de Deus” (Rm 8,34). De fato, Cristo está à direita de Deus Pai pela eficácia de sua força poderosa. Dessa forma, afirmar que o Ressuscitado está à direita de Deus é recorrer, obviamente, a uma imagem para exprimir a elevação inaudita da natureza humana que passa a participar da majestade paternal. O “à direita” manifesta a honra que lhe é dada, e o mesmo se passa com a imagem do estar sentado. Estêvão, ao morrer, vê “o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus”, no que se manifesta que o glorificado está pronto para a ação, como se se preparasse a tomar junto de si aquele que foi lapidado. Assim, pode-se dizer que o Filho do Homem, chegado ao seu pleno cumprimento, continua a agir na história do mundo até que tudo tenha crescido até àquele que é a Cabeça, o Cristo (Ef 4,15). Desta maneira continua sempre válida a expressão do Jesus terrestre ao dizer que faz o que vê o Pai fazer (Jo 5,19s). Na vida eterna, repouso e atividade coincidem: só assim é vida verdadeira.

            O que subiu aos céus partilha a autoridade do “Todo-poderoso”, pois o Pai “entregou ao Filho o poder de tudo julgar, para que todos honrem o Filho como honram o Pai” (Jo 5,23). Que poder poderia ser maior do que julgar o que é mais íntimo, mais secreto em cada homem, e de lhe atribuir o seu correspondente destino eterno? E ainda: Até que ponto a vontade pecadora pode opor-se à graça de Deus? Deste juízo, cujo processo não podemos dizer antecipadamente, trata o próximo artigo da nossa confissão de fé.

Ressuscitou ao terceiro dia

Ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras”, diz Paulo (1Cor 15,4), que quer também ver nesta ressurreição, que ninguém esperava o cumprimento do que havia sido anunciado. A ressurreição e, de fato, importantíssima, porque foi o apogeu daquela serie de milagres com os quais nosso Senhor proveu ser o embaixador de uma Revelação divina. Depois, porque nos provou de uma vez para sempre que a nossa raça tinha triunfado sobre a morte. E, por ultimo, porque foi o modelo e o canal daquele ressurgir para uma vida nova que esta ao nosso alcance através dos sacramentos. Foi uma prova, uma esperança, um desafio.
            Que lugar ocupa a ressurreição de Cristo na nossa fé? A ressurreição de Jesus e a verdade culminante da nossa fe em Cristo e representa, com a cruz, uma parte essencial do Mistério Pascal. Se Jesus não ressuscitou, vã e a nossa fé! Toda a nossa fe se baseia não na ausência de um cadáver, mas sobre o testemunho dos Seus discípulos. Se Jesus ressuscitou, significa que ele era de verdade Aquele que pretendia ser. Se o Pai O ressuscitou dos mortos, significa que suas palavras não são somente palavras de um homem sábio e bom, aniquilado pelo poder corrupto, como aconteceu com tantas outras personalidades de valor. Se Jesus ressuscitou, a morte foi dizimada.
            Jesus verdadeiramente ressuscitou e muitos são os sinais que o testemunham, como lembram São Lucas nos Atos dos Apóstolos e São Paulos nas suas cartas. A ressurreição. Tais sinais vão além do sinal essencial constituído pelo tumulo vazio. A ressurreição de Jesus e atestada pelas mulheres que foram as primeiras a encontrar Jesus e o anunciaram aos Apóstolos. A seguir, Jesus “apareceu a Cefas (Pedro), e depois aos Doze. Seguidamente, apareceu a mais de 500 irmãos de uma só vez” (1Cor 15,5-6). Os Apóstolos não teriam podido inventar a ressurreição, uma vez que esta lhes parecia impossível: de fato, Jesus repreendeu-os pela sua incredulidade.

            A ressurreição de Jesus desencadeou muitas perseguições e acusações, ate mesmo a de que os Apóstolos “fundaram” uma nova religião. Numa nação que esperava um Messias vitorioso e combatente, seria inadequada a pregação de um Messias humilde e derrotado, e de que maneira: crucificado! Os Apóstolos não possuíam tanta habilidade para inventar uma historia tão impopular. Muitos, ate hoje, fazem de tudo para negar a veracidade da ressurreição, entretanto, a solução mais simples e provavelmente a mais verdadeira: Jesus realmente ressuscitou!   

“Descendit ad inferos”

Dou-lhes hoje o tema do artigo em latim, mas não por ter tido um lapso de memória. Sei muito bem que seria mais útil falar na nossa própria língua. Mas apresento-lhes hoje este ponto do Credo em latim de maneira proposital porque sua tradução habitual pode levar-nos a conclusões erradas.
            Desceu aos infernos (ou “à mansão dos mortos” conforme a tradução litúrgica), repetimos nós, sem saber muito bem o que estamos dizendo. O que entendemos por inferno é um lugar ou estado de castigo. Ora, seria um absurdo admitir, mesmo por hipótese, que Cristo tivesse descido ao inferno, tomando a palavra nesse sentido. Sabemos que Ele pregou aos espíritos que estavam na prisão. Mas não teria sentido pregar aos espíritos incapazes de se arrepender.
            Por isso, deve estar claro que nosso Senhor não desceu ao lugar do castigo eterno (ad infernum), mas dirigiu-se às pessoas que estavam embaixo (ad inferos), no mundo inferior, destino de todos os que morriam, lugar no qual estavam todas as pessoas que tiveram uma vida santa e que aguardavam a ressurreição de Jesus para poderem entrar no céu. Por isso que o título está em latim: para percebermos a sutileza deste artigo da fé.
            A doutrina da Igreja nos ensina que essas almas santas (Patriarcas, profetas, etc) que esperavam o seu Libertador, no seio de Abraão, foram libertadas por Jesus, quando ele desceu à mansão dos mortos (ad inferos, aos infernos – mundo inferior). Portanto, Jesus não desceu aos infernos para destruir o inferno da condenação, mas para libertar os justos que o haviam precedido e aguardavam um Salvador.

            “A Boa Nova foi igualmente anunciada aos mortos [...]” (cf. 1Pd 4, 6). A descida à mansão dos mortos seria o complemento, em plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase última da missão messiânica de Jesus. Os mortos também foram atingidos pela morte redentora de Jesus.

Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi Crucificado, Morto e Sepultado.

“Padeceu”. É significativo que o Credo não faça nenhuma afirmação sobre os mais de trinta anos vividos de Jesus, os seus ensinamentos e seus milagres, bem como sobre a sua iniciativa de juntar os discípulos tendo em vista a futura Igreja. Isto mostra que toda a vida e ação de Jesus foram entendidas por ele próprio em relação com a “hora” que se aproxima, só na qual a ação decisiva, que tudo mudaria: o sofrimento pelo mundo pecador. Sobre sua vida e obras temos o testemunho do Evangelho e isso nos basta.
            Entretanto, a morte de Jesus é um dado histórico que conhecemos tanto pelo Bíblia, onde aparece o governador Pôncio Pilatos, governador da palestina, como também por meio dos escritos dos historiadores que afirmam que Jesus foi crucificado sob Pôncio Pilatos.
            Todos os evangelistas relatam claramente a morte de Jesus. Isso é importante quando se deseja afirmar sua verdadeira humanidade. Se ele não tivesse morrido, teríamos dificuldade de aceitar que de fato “foi homem”.     A hora e o poder das trevas” (Lc 22, 53), em que lhe foram infligidas pelos homens toda a espécie de sofrimentos espirituais e físicos, e em que o próprio Deus abandonou o Supliciado, é para nós uma noite insondável. Nenhuma Via-Sacra, nem sequer os horrores das torturas humanas e dos campos de concentração fornecem uma imagem disso. Quem pode imaginar o que significa carregar o peso do pecado do mundo e da perversão íntima de uma humanidade que nega a Deus qualquer serviço e qualquer respeito, e isto face a um Deus que se afasta de todo este horror? Pois bem, o pecador pode ter esperança, o pecado não; mas Cristo, por nossa causa, “foi feito pecado”. (2 Cor 5, 21).

            Jesus foi morto. Morto da morte que o colocava em comunhão com os pecadores, mas da mais tenebrosa. E sepultado, pois, verdadeiramente morto, termina, como nós, o seu destino terrestre.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria


Como já afirmamos no artigo anterior, crer em Jesus é o centro de nossa fé e, por isso, ele possui um desdobramento muito grande dentro da formulação do Credo. Dessa forma, a partir da afirmação “Creio em Jesus Cristo”, nós agora professamos a razão pela qual nós cremos nele e, sobretudo, afirmamos que o homem que nasceu, padeceu, morreu e Ressuscitou, é Jesus, Filho de Deus.
Neste artigo, vamos nos debruçar um pouco sobre os dois pontos seguintes do Credo: “concebido pelo poder do Espírito Santo e “nasceu da Virgem Maria”. É o mistério da Encarnação, o cumprimento da promessa: o “Verbo tornou-se carne e armou a sua tenda entre nós”(Jo 1, 14a). Nosso Senhor nasceu, isto é, Nossa Senhora, a Virgem Maria, foi na realidade sua Mãe. O seu corpo nasceu do dela, assim como qualquer ser humano nasce de sua mãe.
Quando dizemos “Virgem Maria”, dizemos como que uma só palavra, contudo estamos dizendo três coisas separadas: que Maria era ainda virgem quando Nosso Senhor foi concebido. Ela não havia conhecido homem algum (cfLc 1,34) para chegar à maternidade. O Espírito a cobriu com sua sombra (cfLc 1, 35). Nosso Senhor não teve pai humano, é Filho de Deus; a segunda é que continuou quando Jesus nasceu. O nascimento de Jesus não lhe custou dor alguma e não deixou qualquer vestígio; a terceira, como já esperávamos, permaneceu virgem durante toda a vida.
Partindo do princípio de que Jesus era quem era, seria de supor que Ele viesse ao mundo de algum modo sobrenatural. Deus queria dar-nos um presente, o presente mais valioso que jamais alguém deu, fosse a quem fosse. E é natural que esperássemos que este presente viesse envolvido num mistério sobrenatural, anjos cantando no céu, fenômenos com as estrelas do firmamento, a ponto de perturbar três astrônomos da Caldéia. Tudo isto é absolutamente claro, e certamente não há ninguém que não consiga compreender esta parte do Credo, a não ser que negue a possibilidade de haver milagres.

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor


O segundo artigo do Credo é o centro da fé cristã. O Deus confessado no primeiro artigo é o Pai de Jesus, Ungido pelo Espírito Santo como Salvador do mundo.
Sendo centro de nossa fé, este segundo artigo se desdobra nos quatro artigos seguintes: nasceu, padeceu, morreu e ressuscitou. Isso que dizer que a fé cristã confessa que Jesus, um homem que nasceu e morreu crucificado no começo de nossa era, é o Cristo, o Messias, o Ungido de Deus, centro de toda a história. Esse Jesus é o definitivo do ser humano e a manifestação plena de Deus.
Cremos em Jesus porque ele nos permite conhecer Deus em verdade e graça. O que devemos fazer é falar de Deus a partir de Jesus, descobrindo nele também a progressiva revelação que o povo de Israel viveu. Por isso ele é o Cristo, o Messias, o Ungido anunciado, profetizado, aguardado. Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder (cf. At 10, 38), aquele que deveria vir (cf. Lc 7, 19), o objeto de esperança de Israel e que levaria a Boa Nova aos pobres e inauguraria o Ano da Graça em Israel (cf. Is 61, 1-2).
Igualmente é também Filho de Deus, o primogênito e unigênito, o Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós. Isso significa que Ele e o Pai são uma coisa só, existe entre eles uma relação única e eterna: Ele é Filho e o próprio Deus. Crer nisso é necessário para ser cristão.
Jesus é também Senhor de todo o universo. Essa afirmação designa a soberania divina, é crer em sua divindade. Igualmente, representa nossa pertença a Ele. Pertencemos a Ele quais ovelhas ao pastor. A maior indicação disso é que, pelo batismo, fomos assinalados, marcados com o sinal desta pertença: o sinal da cruz. Se ele é nosso Senhor, cabe a nós, portanto, seguir os Seus passos e ouvir a Sua voz que nos guia, para que nós, crituras problemáticas que somos, entremos com Ele, que é “novo céu e nova terra”, na vida íntima do amor divino. Creiamos nisso!

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quarta-feira, 27 de março de 2013

Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra


Num mundo imerso em uma profunda crise de valores, de relativismo, de afastamento de Deus, o Credo cristão – que pressupõe, obviamente, a experiência fundante do encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo como revelador de Deus e do homem – apresenta-se com toda a sua capacidade para iluminar este tempo de desorientação.
Toda manifestação de fé que se segue está relacionada a esta verdade que professamos: Cremos no Deus único, Pai, que tudo criou por seu poder e por ninguém foi criado. É Ele o Criador de todo o Universo. A fórmula Niceno-constantinopolitana diz: “Creio em um único Deus criador de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Tudo é obra da criação divina. Toda a história da salvação, portanto, está assentada sobre essa verdade. Uma verdade que nos revela três afirmações acerca de Deus e que professamos no primeiro artigo do Credo: ele é Pai, Onipotente e Criador.
Que ele é Pai, nós o sabemos, na sua plenitude última, por Jesus Cristo que se refere sempre a ele, com um amor, uma gratidão e uma adoração constantes. Deus é Pai porque ele é o gerador da vida, que se derrama, uma fonte que jorra sem ter atrás de si uma nascente, se auto-doa.
É Todo-Poderoso – onipotente – porque é o Senhor da história, é O Dom de si por excelência, nada o limita. Contudo, permanece um mistério o modo como Deus recorre à sua onipotência. Fazemos constantemente a pergunta: “Onde estava Deus quando...” e logo nos vêm à mente tantas desgraças que, ao longo da história, aconteceram e ainda acontecem no mundo. Percebamos então que a onipotência de Deus deve ser compreendida à luz da Páscoa de Jesus. A aparente “impotência” da Sexta-Feira da Paixão é o fato inicial para a manifestação da onipotência de Deus na Ressurreição.
Por fim, cremos num Deus criador, porque seu amor é tão perfeito que Ele cria um mundo livremente e sem constrangimento, cujo coração e sentido é seu Filho. Assim, a Criação é um chamamento à liberdade e a exercer nossa vocação de cooperadores da criação. O mundo e toda a Criação refletem a beleza de Deus, mas não são Deus, são, ao contrário, manifestação da glória de Deus.
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Esta é a nossa Fé


Como dissemos anteriormente no último artigo, a fé é um dom que nós recebemos da Igreja, que a professa e a transmite. Ao mesmo tempo, é um ato livre que testemunhamos com gratidão, pronunciando-a com consciência e empenho na assembleia que celebra a Eucaristia dominical. Ela é resposta à revelação de Deus e por isso é sempre dom. Ela nasce do espanto diante de Deus que se revela e se entrega. É a nossa resposta mais adequada. Por isso a fé é intimamente ligada ao amor, pois só se acredita em Deus precisamente porque se ama. E ama-se porque descobrimos sermos amados por ele. E aquele que vive o mandamento do amor na comunidade, crê como comunidade e na comunidade cristã que nos transmitiu a fé. Ao mesmo tempo se crê individualmente, sem possibilidade de se delegar, na medida em que a fé é uma escolha livre e voluntária. E fazemos isso por meio do Símbolo, a oração de nossa fé: o Credo.
A fórmula do Credo é a expressão fundamental da fé em que acreditamos, mas pressupõe, por sua vez, a fé com a qual acreditamos. São frases, fórmulas que têm a função de imagens, símbolos verbais e audíveis que remetem para Deus uno e trino, invisível, mas próximo.
Essa fé nós a expressamos não só professando-a, mas também celebrando-a nos sacramentos, uma vez que sem eles nossa profissão de fé não seria eficaz, pois faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos; vivendo-a em nossa comunidade paroquial, por meio do amor de Cristo que enche nossos corações e também rezando-a, pois devemos lembrar de Deus e de suas maravilhas, da mesma forma como nos lembramos de respirar. E o Credo nos proporciona isso.
Esta oração, o Credo, é o nosso selo espiritual, o Símbolo, aquilo que nos une, é a meditação do nosso coração e a sentinela sempre presente: é, sem dúvida, o tesouro de nossa alma e a porta de entrada para a intimidade com Deus que Se nos revela e que a Igreja nos transmite, não por opiniões humanas, mas pela revelação do próprio Deus nas Sagradas Escrituras.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Creio - Cremos


Caros irmãos e irmãs leitores, iniciamos com este artigo uma série de estudos sobre o dom precioso da nossa fé. Para isso, meditaremos quinzenalmente sobre um artigo do Credo que professamos na missa dominical. É proposta do Ano da Fé, proclamado solenemente pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI, “[...] intensificar a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais conscientes e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver [...]” e que suscite “[...] em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança” (Porta Fidei 8-9).
O Catecismo da Igreja Católica tem como título de sua primeira seção justamente o título desse artigo, que tomamos liberdade de tomar emprestado. Isso porque, quando iniciamos a profissão de nossa fé, iniciamos dizendo “Eu creio – Nós Cremos”. Agora, o que significa Crer? O catecismo vai afirmar que a fé é nossa resposta a Deus que se nos revela e se doa. Em suma, o homem busca a Deus que se revela, se apresenta ao homem. São Paulo vai dizer que “acredita-se com o coração e, com a boca, faz-se a profissão de fé” (Rm 10, 10). O coração indica que o primeiro ato, pelo qual se chega à fé, é dom de Deus e ação da graça que age e transforma a pessoa até ao mais íntimo dela mesma. O coração é o autêntico sacrário da pessoa humana; se ele não for aberto pela graça e não assimilar e acolher os conteúdos nos quais se deve acreditar, não se consegue enxergar em profundidade que aquilo que foi anunciado é palavra de Deus. Ao mesmo tempo, professar com a boca implica testemunho e compromisso. Não é um ato privado, ao contrário, possui uma dimensão pública de crer e anunciar a fé. 
Nessa perspectiva, “‘Eu creio’: é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente, principalmente por ocasião do Batismo. ‘Nós cremos’: é a fé da Igreja, confessada [...], de modo mais geral, pela assembleia litúrgica dos crentes. “Eu creio”: é também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: ‘Eu creio’, ‘Nós cremos’” (CIC 167).
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